5 erros de projeto que comprometem a operação do Centro Cirúrgico

Imagine a seguinte situação: um hospital dia recém-inaugurado, investimento de milhões, equipamentos de última geração... mas algo não funciona como deveria. A operação não flui, há gargalos inesperados e a equipe médica precisa "se adaptar" constantemente ao espaço.

O problema? Erros básicos de arquitetura que poderiam ter sido evitados na fase de projeto.

Como arquiteta especializada em saúde há mais de duas décadas, vejo esses mesmos equívocos se repetindo em hospitais por todo o Brasil. E o mais frustrante é que, na maioria dos casos, são erros simples de corrigir — se identificados a tempo.

1. Tratar o Centro Cirúrgico como "qualquer ambiente"

O erro mais grave: não reconhecer que o centro cirúrgico é uma unidade crítica que exige rigor técnico absoluto.

Muitos projetos tratam essas áreas como salas convencionais, ignorando que estamos lidando com vidas humanas e protocolos rígidos de segurança. Em hospitais dia, onde cirurgias de baixa e média complexidade acontecem, essa negligência pode ser ainda mais perigosa pela falsa sensação de "simplicidade".

O impacto real: contaminação cruzada, dificuldade de limpeza, protocolos de segurança comprometidos e, no limite, risco para a vida dos pacientes.

2. Eliminar a luz natural por "facilidade"

Aqui temos um paradoxo interessante: a luz natural é benéfica para prevenir infecções e melhorar o bem-estar da equipe, mas muitos projetos simplesmente eliminam janelas para "simplificar" o projeto.

A solução não é eliminar — é projetar corretamente. Vidros duplos com persianas intermediárias permitem blackout total quando necessário, mantendo os benefícios da luz natural nos momentos adequados.

Dica técnica: consulte fornecedores sobre sistemas de vedação 100% eficazes. Existe tecnologia disponível, basta especificar corretamente.

3. Esquecer dos vestiários de barreira

Este é um erro que grita negligência com normas básicas. Todo centro cirúrgico, mesmo em hospital dia, precisa de vestiários de barreira adequados.

A lógica é simples: controle de acesso e prevenção de contaminação. Sem esses espaços corretamente dimensionados e posicionados, toda a cadeia de segurança fica comprometida.

Vejo projetos onde a equipe precisa se trocar em vestiários distantes e caminhar por corredores até a área cirúrgica. Isso não é apenas inadequado — é perigoso.

4. Ambientes de apoio fora da unidade fechada

Outro erro recorrente: colocar sala de utilidades, DML (Depósito de Material de Limpeza) e outros ambientes de apoio fora da unidade cirúrgica.

Por que isso é problemático?

  • Quebra dos fluxos operacionais

  • Aumenta o risco de contaminação

  • Gera ineficiência operacional

  • Compromete protocolos de limpeza

A regra é clara: esses ambientes devem estar dentro da unidade fechada, facilitando o trabalho da equipe e mantendo a integridade dos protocolos.

5. Ignorar a voz dos usuários finais

Talvez o erro mais frustrante de todos: projetar sem ouvir médicos, enfermeiros e técnicos que trabalharão no espaço diariamente.

Recentemente, trabalhei em um projeto de hospital dia onde as salas cirúrgicas variavam entre 24 e 42 metros quadrados — não por capricho, mas porque ouvimos as necessidades específicas de cada especialidade médica.

Oftalmologistas têm necessidades diferentes de cirurgiões plásticos. Essa é uma realidade que não pode ser ignorada em nome de uma "padronização" mal pensada.

A CME como elemento integrador

Um ponto que merece destaque especial: a Central de Material Esterilizado (CME) em hospitais dia pode ser simplificada ou até terceirizada, mas jamais pode ser negligenciada.

A conexão adequada entre CME e centro cirúrgico é fundamental para o fluxo operacional eficiente. Quando mal planejada, gera gargalos que impactam toda a operação.

Reflexão final

Projetar espaços de saúde exige uma responsabilidade que vai além da estética ou da funcionalidade básica. Estamos desenhando ambientes onde vidas são salvas.

Cada decisão arquitetônica impacta diretamente a qualidade do cuidado oferecido. Por isso, não podemos nos dar ao luxo de cometer erros que a literatura técnica e a experiência prática já mapearam.

Você já presenciou algum desses erros na sua instituição? Como sua equipe lida com espaços mal projetados?

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